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Você não está sozinho

  • Martha Sampaio
  • 18 de nov. de 2021
  • 2 min de leitura



Preocupado com os efeitos do isolamento social na saúde mental da população, o governo japonês criou uma pasta voltada a essa questão, nomeando o Sr. Sakamoto, Ministro da Solidão. Uma iniciativa honrada num país onde esse já é um problema endêmico. Como tudo na vida obedece a uma relativização ou hierarquia, aqui por estas bandas, seria mais coerente começarmos nomeando o Sr. Ministro da Fome.


Mas não é esse o papo que quero trazer aqui. Que a solidão acabou se tornando uma pandemia dentro da pandemia, ninguém pode negar. Mas um tantinho de reflexão ajuda a compreender que solidão é o que também sentimos na ausência de conexão emocional. Quando nos reconhecemos e nos encontramos no outro, tudo pode mudar. Ou pelo menos amaciar.


Os dias que a ansiedade saía porta afora e nos deixava em paz já vão longe. Madrugada, uma dor abdominal forte subiu pelo peito, quando intuí: “É coração. Fui.” Percebe? Você não infarta porque o coração cansou. Você quase infarta pela sensação paralisante de que vai infartar.

No dia seguinte, uma amiga ligou. Se é verdade que as energias, entre pessoas que se sabem e querem bem, conectam-se do nada, vá saber - a saúde dela também tinha ido à beira do colapso. Imaginário.


Colocamos nossas pandemias em dia com insights simples e redentores - da literatura à terapia, cinema, medicina alternativa, arte, à santa salvação de um bom vinho. Rimos das nossas loucuras e rimos de nós mesmas. Rimos da nossa total incapacidade de disciplina até para levar a ansiedade a cabo e a sério. E o inevitável veio: ficamos levinhas levinhas.


Nada nos salva mais do que a certeza de não estarmos sozinhos com nossos apertos e anseios mais secretos. Solidão é não ter um alguém que nos leia e entenda nas entrelinhas, que converse com a gente pelo olhar ou pela cadência da nossa respiração. Alguém que ouça nossas dores sem que nada seja dito. Solidão é a ausência dessa conexão. Sim, podemos viver rodeados de gente e nos sentir um deserto.


Caro Sr. Sakamoto, o senhor bem sabe, esse mal apenas veio mais à superfície. Sem nenhum atrevimento, o senhor poderia dar uma olhadinha mais de perto. E um pouco além, e anterior a tudo isso. Como todos, e em toda a parte.


A serenidade não sobrevive na solitária. Que mundo é esse que inventamos? Como é possível a vida sem uma voz que ecoe lá no mais íntimo de nós: “Você não está sozinho”?


Até.


 
 
 

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