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Trate bem as suas mágoas

  • Martha Sampaio
  • 1 de out. de 2021
  • 2 min de leitura

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A mágoa é uma mala grande, pesada e sem rodinhas - um trambolho incômodo -, difícil de carregar. E só faz nos atrasar.


Mágoa é o que sentimos quando nossas expectativas não encontram correspondência em alguém que significa muito para nós. Pode nascer da indiferença, de uma atitude egoísta, de um sentimento traído, das distâncias - nem sempre sutis - que nos distinguem de nossos afetos.


Sentida e ressentida dezenas, centenas, milhares de vezes, a mágoa encrava. Você já não sofre mais pelo o que ou quem a provocou, mas por não conseguir se libertar. É como viver uma cena ruim em reprise. Cansa. Machuca. Exaure. Adoece o coração e, se bobear, contamina. Faz mal para você e para mais ninguém.


Eu vinha arrastando a minha, exausta. Preciso perdoar, falei, quando um amigo revidou: “Preciso, não, tu não és a Madre Tereza”.


Exato. O perdão mora numa outra escala, pensei. Pressupõe alguma autoridade moral, espiritual, existencial. Cá comigo, sinto até um desconforto com isso do “eu te perdoo.” Como se eu transitasse acima do erro. Acima da imperfeição. Acima de nossas esquisitices mundanas.


Quem perdoa, antes condenou. E mágoa não tem nada a ver com condenação, tem a ver com dor. Dor a gente trata ou amansa ou decide viver com ela. O que, de longe, era uma opção.


Pego, então, carona nos conceitos filosóficos e espirituais que defendem, com unhas e coração, que o perdão cura. E que pode também descer do salto para uma forma de compaixão, de compreensão das razões de quem te feriu.


Voilà.


Desço um pouquinho mais, pra minha versão. Mais humana, mais possível. Ligeiramente egoísta, mas não menos justa - perdoar é se permitir viver em paz. É deixar a mala grande e pesada para trás. E seguir.


Quem nunca magoou? Quem nunca vacilou?


A vida é curta pra andarmos por aí pegando pesado com o que pode ser leve. E não é sempre que temos essa opção.


Até.




 
 
 

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