Se o amor é a menor distância entre dois pontos, então tá

Difícil dizer tanto com tão pouco: então tá é senha. Duas palavrinhas que, juntas, denunciam o sentimento da vez.

Você vai cortar o cabelo e, quando o artista finaliza a obra, você faz uma carinha de gostei mas não amei. Implora para cortar aqueles dois fiozinhos a mais, estúpidos fiozinhos largados ali acima da sobrancelha. Estranhamente, eles fazem seu lindo look parecer um desastre. Ferido na sua artesania, ele retoca o que já era perfeito, não sem antes murmurar um melancólico então tá.

Você acorda preto e branco depois de dormir quatro míseras horinhas. Banho, café, crianças na escola, trabalho, reunião almoço, mais trabalho, passadinha na mãe, super, volta pra casa, dá janta para as crianças e, finalmente, banho, pijaminha, filmezinho, pernas para cima, quando ele chega: “Boazinha essa, heim? Tevezinha, pijaminha e eu ralando, então tá, né?”

Percebe? Então tá também pode ser bem corrosivo. Se acompanhado do né, é coisa nenhuma, só uma provocação qualquer. Com significado e sentido, só o então tá que vem sozinho. Como o que combina o lugar, o vinho, o filme, a música, a viagem, o próximo passo. Sozinho ele é forte e conciliador, uma declaração de amor. Mesmo quando nos bagunça.

Sabe aquele momento que você daria o mundo para que não acabasse? Aí, vem ele, o então tá mais gentil que já você já ouviu na vida. E o mais intransigente. Senha sem apelação, porque o avião tem hora pra decolar.

“Então tá, pessoal, preciso ir.”

Meu filho retornou para o Canadá, onde mora, depois de um breve período aqui no Brasil. Do aeroporto pra casa, desperta a saudade que vou sentir. E me vêm dessas coisas que chegam do nada e com chance de nos salvar: Se você quer estar com alguém a quem ama, já não está lá? *

Fico triste. Mas em pé. Sim. Sim. Sim. Longe é um lugar que nos aperta de saudade, mas nunca alcança o coração.

Então tá.

*Richard Bach, no livro: “Longe é um lugar que não existe”.