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Posto Ipiranga

  • Martha Sampaio
  • 29 de set. de 2019
  • 2 min de leitura


É provável que você já tenha visto algum comercial da campanha feita para a rede de postos Ipiranga. A síntese é simples. E traz à tona o fôlego criativo desses malucos divertidos da comunicação. Pão quentinho? Sede? Posto Ipiranga. Saudades? Crédito no celular? Passa ali no posto Ipiranga. Precisando de uma ajuda, de uma dica? Pergunta ali no posto Ipiranga. Um lugar completo? Ora, posto Ipiranga. Bela sacada para um mundo carente de respostas descomplicadas e, sobretudo, resolutivas.


Outro dia, alguém da minha família, diante de um intrincado cotidiano destes bem chatos, saiu com essa: “Isso é coisa pro nosso posto Ipiranga resolver” - um reconhecimento bem humorado até. E impregnado de carinho. Mas mexeu comigo. Não que eu também não reconheça. Ou que não seja grata (e como sou!). Muito pelo contrário. “Isso é coisa pro nosso posto Ipiranga resolver” mexeu comigo porque revelou - espontâneo e sem pudor - uma verdade incômoda. Frente a uma pessoa incapaz de nos dizer não, somos nós - os outros - que temos o dever de estabelecer o limite. E parar.


Trabalhar nos toma tempo. Estudar nos toma tempo. Desenvolver novos projetos nos toma tempo. Administrar uma casa nos toma tempo. Se relacionar nos toma tempo. Criar um filho nos toma tempo. Cuidar de nós mesmos nos toma tempo. Coisas socialmente confirmadas como grandes e complexas nos tomam tempo. Mas nada nos toma mais tempo e energia do que as miúdas e constantes e corriqueiras demandas.


É fácil atender ao tanto que nos é exigido, se temos a segurança de outro alguém cuidando - além de suas coisas também grandes e complexas - de todo o resto. Que de resto não tem nada. É parte visceral do nosso bem-estar. Burocracias insondáveis? Passa ali com ela. Dor de cabeça estrutural-filosófica-cotidiana? Fala com ela. Acompanhar no médico? Na fisioterapia? Com ela. Desatar um nó bem feito? Pergunta para ela. Ter alguém ali - garantia e constância? Fala com ela, pô.


Prioridades, cada um tem as suas. Ou melhor, cada um na sua - quase que um mantra desses nossos dias inquietos. Mas nem tudo funciona assim. Nem todos funcionam assim. Só há um jeito de compreender o que significa um ser cujas prioridades incluem indistintamente as dele, as minhas, as tuas, as dos amigos, as dos vizinhos, dos conhecidos e, se bobear, as dos desconhecidos também: convivendo diariamente com um.


Ando, como sempre, lotada de compromissos socialmente confirmados como grandes e complexos. Se dou conta? Pergunta ali no meu posto Ipiranga.


Até.

 
 
 

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