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As músicas das nossas vidas

  • Martha Sampaio
  • 22 de jul. de 2020
  • 2 min de leitura

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Emociona ver algumas iniciativas simples e generosas que levam instantes de alegria e bem-estar à vida de outras pessoas.


Velhinhos e velhinhas de residenciais e asilos vivem um confinamento prolongado e rígido. Nada de amigos, ou pessoas da família, ninguém pode visitá-los. Eles têm um ao outro e a companhia de profissionais que trabalham ali. Por mais laços que se estabeleçam, isso é mais ou menos como colocar os afetos em completo isolamento.


“E se eles recebessem a visita da música?”- ponderou o artista. E a ideia nasceu: velhinhos e velhinhas pedem a sua música. Músicos tocam e cantam, e as canções chegam aos ouvidos e olhos dessa turminha através das telas e canais digitais. Eles são transportados a seus passados e pertences - a um grande amor, ao vigor da juventude, aos tempos dos quais guardam saudade. E os olhares entregam a emoção que rola ali.


Para muitos de nós, músicas são atadas à vida. Há casais que têm a sua, que resgata lá o primeiro encontro, a primeira reconciliação, o primeiro tudo. Há adultos que voltam à infância diante de uma melodia. E bebês, ah! os bebês, o que seria deles sem as cantigas de ninar? E de todos nós sem as viagens a que a música nos leva?


A fita cassete tocava à exaustão, coitada. Chegava no fim e rebobinava. E de novo. E de novo. E de novo. Simon & Garfunkel embalavam a nossa aventura, amigas em uma viagem de carro, pela primeira-vez-na-vida-juntas-sem-pai-nem-mãe, nem tio, nem tia, ninguém mais velho por perto. Por lugares incríveis. E longe, bem longe de casa. Ao final, a saída foi sortear a fita, todas queriam. Fiquei feliz por quem ganhou. E triste por não ter sido eu. Ainda não compreendia que essas coisas não nos escapam jamais. Como foi com as outras tantas viagens que vieram antes e depois desta.


Músicas casam com os nossos momentos. Amplificam experiências e repercutem memórias através dos anos e através de todos os nossos sentidos.


Pessoal aí do tempo do vinil, da fita cassete, da escuta paciente diante do rádio (pra conseguir gravar, no capricho, as preferidas), do cd, do streaming, quem ama música sabe que é impossível descolar uma coisa da outra. As trilhas sonoras das nossas vidas nos fazem reviver (voltar à vida; renascer; revigorar-se; renovar-se; viver de novo; relembrar; recordar).


Fiquei contente por ver os velhinhos e velhinhas recebendo “a visita da música”. Não por acaso, a sensibilidade é uma das virtudes que definem o coração de um artista.

Até.


 
 
 

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